Presidente sugeriu haver 'guerra biológica', e chanceler diz que Brasil prioriza relação com a China

A declaração de ontem (5) do presidente Jair Bolsonaro, insinuando que a pandemia de coronavírus seria parte de uma “guerra biológica” chinesa e que “militares sabem disso”, teve forte repercussão na audiência da Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado com o chanceler Carlos França, nesta quinta-feira (6). O chanceler reagiu dizendo que o Brasil pretende ampliar e diversificar as relações econômicas e comerciais que tem com a China, destacando que a relação com o país asiático está entre as prioridades do governo brasileiro, que depende do envio do ingrediente farmacêutico ativo (IFA) para garantir doses de vacinas contra a covid-19.

Diante de críticas à fala de Bolsonaro, tratada pela presidente da CRE, Kátia Abreu (PP-TO), como uma “acusação muito grave”, o chanceler brasileiro revelou que conversou ontem com o presidente da República, que lhe teria garantido que as relações do Brasil com a China “devem continuar sendo as melhores” e que não teria se referido especificamente ao país asiático, quando mencionou a “guerra biológica”.

A presidente da CRE disse nem ter dormido direito, por temer algum tipo de retaliação do governo chinês. A principal preocupação da senadora é que a grande exportação de setores de nossa economia para a China, especialmente o agronegócio, possa ser prejudicada.


Kátia revelou que desde que o presidente fez essas declarações, ela foi procurada por centenas de grandes exportadores brasileiros para a China, que mandaram mensagens e fizeram ligações telefônicas, preocupados com as consequências da fala de Bolsonaro. A senadora acrescentou que, se em 2020 o Brasil teve um superavit na balança comercial que superou U$ 50 bilhões, foi graças à China.

“Sem as compras chinesas, o superavit teria sido de U$ 18 bilhões. A China é nosso maior parceiro comercial desde 2009, e o Brasil precisa entender que o crescimento deles nos favorece. Se a China crescer 5% por ano nos próximos 10 anos, o aumento de nossas exportações será ainda mais exponencial”, detalhou.

Maior parceiro e investidor do Brasil

Na resposta à senadora, o ministro das Relações Exteriores concordou com o diagnóstico de Kátia de que o crescimento chinês favorece o Brasil. E reforçou que o Brasil não tem “nenhum problema político com a China” e disse que conversou nesta quinta com o embaixador brasileiro em Pequim, Paulo Estivallet.

“O diplomata Estivallet me deu excelentes notícias: 80% dos insumos farmacêuticos (IFAs) fabricados pela China são enviados ao Brasil. Em contato que teve com autoridades chinesas hoje, Estivallet me comunicou que eles continuarão priorizando nosso país”, esclareceu França.

O chanceler destacou que o comércio bilateral com a China cresceu em 2020, apesar da pandemia, para volume recorde de US$ 102,5 bilhões, com saldo superavitário para o Brasil de US$ 33 bilhões. “Queremos um relacionamento econômico e comercial maior e mais diversificado com a China. Nossas exportações, ainda concentradas em poucos produtos primários, poderão expandir-se em quantidade e em variedade”, disse o ministro. (Com informações da Agência Senado e Agência Brasil)