SANTOS
15/07/2021 08H38
Paciente pede namorada em casamento na UPA Central de Santos após vencer covid-19
Buquê de rosas vermelhas, pétalas e bexigas espalhadas no chão, árvore de corações na parede e balão com a frase ‘Quer casar comigo?’. Por si só, o cenário para um pedido de casamento já seria especial, não fosse a singularidade da circunstância e do lugar. Após um dia na enfermaria e 18 na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital de campanha da UPA Central para tratamento da covid-19, o engenheiro civil Vitor Matos Caselato, 30 anos, morador do Embaré, pediu em casamento a namorada Ester dos Santos França, 31, na recepção da unidade. Tudo ao som da música Perfect, de Ed Sheeran, e não poderia ser mais perfeito: foi o dia de sua alta hospitalar.
Juntos há 12 anos, o casal pretendia oficializar a união, mas esperava maior estabilidade financeira. “Com a doença, percebi que o que realmente precisávamos nós já tínhamos, que é o amor, o companheirismo e a parceria”, diz Vitor, que, em princípio, pretendia fazer o pedido por meio de videochamada. A ‘cerimônia’ de pedido de casamento foi organizada pela equipe do hospital e foi uma surpresa para Ester e para a família de Vitor. “Foi surpreendente e maravilhoso. Eu cheguei para buscá-lo e minha visão não saía dele. Quando o abracei, pensei: meu Deus, acabou essa situação e ainda ganhei um casamento. Fiquei muito feliz. É difícil mensurar o sentimento que a gente tem quando uma pessoa que a gente ama lutou pela vida e venceu”, se emociona Ester, que é pedagoga.
CARTAS DE ESPERANÇA
Durante o período de internação, sem poder ter contato por telefone ou visitas, o casal e a família encontraram na forma mais tradicional - a carta - o meio de se comunicar. “Foram cartas escritas não só pela Ester, mas pela minha mãe, pai, irmão e tia. E foi isso que me deu forças, pois nessas cartas eles me mandavam muitas energias, falavam que estavam em oração e me mantinham conectado com o que acontecia aqui fora”, conta o rapaz.
Em cada palavra que Ester escrevia, tentava dar forças a ele, demonstrando seu amor. “Eu deixava claro que estava do lado dele mesmo de longe. Foi umas das fases mais complicadas da minha vida. Quando se tem uma pessoa que a gente ama correndo risco, nós paramos para viver em função disso. Nada fazia sentido sem meu Vitor”.
E foi nessas cartas que o engenheiro escreveu à família que ele disse que, no dia de sua alta, faria uma surpresa. “Nas cartas, ele perguntava se nós imaginávamos o que seria a surpresa. No momento que estávamos destruídos, a gente tinha esperança da surpresa que ele dizia que ia fazer. Era uma forma positiva de conversarmos com ele”.
O COMBINADO
A equipe do hospital ajudou a organizar a surpresa, após um combinado feito há dez dias com a médica do hospital de campanha da UPA Central, Isabela Rossi, que acompanhou Vitor diariamente durante sua internação na UTI. Foi o momento mais marcante para ele e para toda equipe, já que seu estado de saúde era considerado grave, com 90% de comprometimento do pulmão e grande chance de intubação.
“Ele não estava melhorando e fizemos tomografia para ver se tinha alguma alteração pulmonar que justificasse a dificuldade de melhora clínica. Naquele dia, soubemos que ele ia pedir a namorada em casamento por videochamada, mas como voltou cansado do exame, não conseguiu”, relata a médica.
No dia seguinte, pela manhã, vendo-o muito emotivo e com medo de não conseguir fazer o pedido, a médica fez um combinado: “Pedi para ele não ficar mais nervoso e disse que, no dia que ele tivesse alta, eu iria comprar o balão que ele pediu e um buquê de rosas. Combinei que ele tinha que ficar bom para poder fazer um pedido de verdade e não por videochamada. Poder ajoelhar e pedir do jeito que ele tinha sonhado”.
VITÓRIA DE TODO MUNDO
As medicações foram ajustadas e as fisioterapias intensificadas. E, a partir do combinado com a médica, Vitor começou a responder melhor às terapias. “O dia que a gente decidiu que faria a surpresa à namorada foi o ponto que ele realmente começou a melhorar, ficou mais positivo em relação ao tratamento, mais motivado e esperançoso. E toda a equipe viveu esse sonho”, conta a médica, lembrando que foram dez dias planejando a surpresa. “Todo dia a gente falava sobre isso, combinava que flor ia trazer, como seria, o que ele iria falar. No final, a vitória não foi só dele, mas de todo mundo”.
Para Vitor, foi o vigor que precisava para sua própria recuperação. “O combinado com a dra. Isabela me deu forças para lutar contra a covid. A equipe acreditou na minha força. Quero agradecer aos médicos e aos enfermeiros da UPA Central, porque eles são anjos. Estou vivo graças a eles”, diz ele, que não precisou ser intubado.
INSPIRAÇÃO
No hospital, a equipe torcia pela recuperação de Vitor. “A gente viu o quanto ele lutou e o quanto ele merecia ir para casa. Ver um paciente que, por diversas vezes, foi quase intubado se recuperar é muito gratificante. O sonho de todo mundo que trabalha na área da saúde em hospital covid é entregar as pessoas novamente às suas famílias. A gente nunca vai se acostumar a dar más notícias. E são essas histórias que fazem a gente acordar todo dia e ver que todo sacrifício vale a pena”, afirma a médica.
“A médica Isabela semeou esperança dentro da gente e Deus foi nosso alicerce com o apoio de familiares e amigos que oraram por nós. Estou tão feliz e a família dele também. Agora estamos em paz. Que a história do Vitor inspire outras pessoas a lutarem por suas vidas”, disse Ester.