Prefeitura de Guarujá e Instituto SOS Rio do Peixe uniram forças com os pescadores do Perequê para proteger ecossistema local; montante é resultado de três anos de trabalho, entre 2019 e 2021
Mais de 20 toneladas de lixo foram retiradas das zonas costeiras de Guarujá, Santos e Bertioga entre 2019 e 2021. A ação, que visa a proteção do ecossistema marinho, foi possível através do Projeto Nossos Mares, em conjunto com Instituto SOS Rio do Peixe e pescadores da Praia do Perequê, com o apoio da Prefeitura de Guarujá, via Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Semam).
Só entre agosto a dezembro de 2021, 1.420 quilos de resíduos sólidos foram retirados das águas. Parte fundamental da iniciativa, os pescadores, inclusive, já relatam sentir o impacto positivo, encontrando uma quantidade significativamente inferior de resíduos sólidos no mar nos últimos meses.
“Várias vezes acontecia de pescarmos dois ou três quilos de camarão e, junto, 20 quilos de lixo. Um número assustador. Isso é perder horas de trabalho e combustível para recolher lixo. Todos os méritos devem ser dados aos pescadores que, ao saírem de madrugada para trazer o sustento para dentro de casa, acabam trazendo esses resíduos sem serem remunerados por isso”, disse Jackson Xavier da Silva, pescador e presidente do S.O.S Rio do Peixe.
Guarujá é precursor nas ações de combate ao lixo do mar nesse modelo em conjunto aos pescadores. A Semam comemora a expansão da ação. “Guarujá é pioneira em ações concretas de retirada dos resíduos nas regiões costeiras da Baixada Santista. A partir deste projeto, surgiu interesse do Instituto Florestal em replicar a ideia em outras localidades do litoral norte e sul de São Paulo”, revela o secretário de Meio Ambiente de Guarujá, Sidnei Aranha.
O titular da Semam também acrescenta que houve proposta de parceria com a Universidade Federal de São Paulo para sistematização do projeto. “O diferencial desse projeto é que os pescadores são os atores principais da retirada dos resíduos lançados ao mar”, disse Aranha, destacando que Guarujá também foi convidada a apresentar a iniciativa na 1ª Conferência Internacional de Resíduos Sólidos, que será realizada em Recife-PE, em março. Além de ajudar na logística do projeto, a Semam de Guarujá fornece kits com equipamentos para os pescadores, como luvas e sacos de lixo.
Antes do projeto, os resíduos coletados nas redes de arrasto acabavam sendo devolvidos ao mar. Agora, com um trabalho de conscientização, eles são trazidos para o ponto de coleta instalado em terra. O lixoé coletado pelos pescadores do Perequê, auxiliados pelo Instituto S.O.S Rio do Peixe, entidade que auxilia em toda a parte manual da ação, como a coleta e a triagem.
Pesquisa detalha tipos e até marcas de materiais coletados
A partir dos 1.420 quilos de lixo retirados no semestre passado, a equipe do projeto desenvolveu uma pesquisa para detalhar os tipos de materiais mais encontrados no mar. O item mais descartado foi o plástico, que aparece com 43,3% no levantamento, seguido por: 25,9% de Produtos têxteis; 10% de Madeira; 6,2% de Vidro ou Cerâmica; 4,3 % de Papel e 1,6% de Borracha.
A partir de 2021, o Nossos Mares implantou o procedimento chamado gravimetria,método quantitativo que consiste na separação e pesagem dos materiais por tipologia, e o cálculo dos percentuais de cada material em relação ao peso total da amostra. Isso permite uma análise mais detalhada do material encontrado.
Após essa análise, é feita ainda uma classificação do que é descartado para destinação adequada. Os dados coletados são avaliados pela Semam, a fim de gerar um perfil do lixo no mar, possibilitando ações diretas e indiretas para diminuir o aporte de resíduos no oceano.
Marcas
Há ainda uma nova etapa na análise do lixo encontrado, com a realização de uma pesquisa de análise das marcas das embalagens. Em dois dias de análise, 29,5% dos resíduos foram identificados segundo suas marcas e modelos, com os rótulos fotografados, definido as 10 marcas mais encontradas.
Embalagens do refrigerante It correspondem a 8,7%. Coca Cola são7,8%; Fanta Laranja,3,5%; assim como cerveja Heineken e produtosYpê; Água Bonafont são 3,1%; cerveja Original,2,4%, cosméticosPantene são2,1%, mesmo percentual dada Natura.
Outros 70,5% não puderam ser reconhecidos, devido ao alto nível de degradação, pelo longo período no oceano. O grande objetivo da identificação de marcas é discutir as ações de combate a esses resíduos e implementar novos sistemas de logística reversa, de forma independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, conforme novo marco de saneamento, Lei Federal 14.026/2020.