Tradicional feira representa a principal fonte de renda para sete famílias vicentinas
Os tradicionais doces da Praça da Biquinha são de encher os olhos e dar água na boca. Cocadas, maçãs do amor, bolos, tortas e pudins estão entre as atrações que encantam milhares de vicentinos e turistas. Para sete famílias, porém, os quitutes representam a principal fonte de renda.
É o caso de Joanira Martins de Lima, de 58 anos. A vendedora trabalha no local há mais de cinco décadas e acompanhou as transformações no local ao longo dos últimos 51 anos.
A alagoana iniciou sua relação com os doces ainda na infância. A irmã mais velha casou em São Vicente, trazendo consigo vários parentes. Sem emprego, logo a família encontrou na Biquinha uma oportunidade de geração de renda. “No começo, vendíamos queijadinhas, cocadas, quindins e bolos de mandioca e de milho, além de pipoca e tremoços”.
Com o tempo, a família fixou a produção nos doces. E, em se tratando da Biquinha, Joanira já aprendeu que não adianta querer inovar. “A procura é sempre maior pelos produtos tradicionais, como cocadas, quindins e bolos de milho e de mandioca. Os turistas, por exemplo, já vêm com essa ideia fixa”.
O valor dos doces é tabelado: R$ 7. Em dias de muito movimento, ela chega a vender mais de 120 produtos. Para atender esta demanda, a vendedora conta com a ajuda do irmão e da filha na produção dos quitutes.
Trajetória – A história de vida da vendedora Luciana Pereira Silva, de 43 anos, também está relacionada aos doces da Biquinha. Antes de se casar, quando tinha apenas 13 anos, Luciana ajudava uma família a vender quitutes no local. À época, não imaginava o que o futuro lhe reservara: seus patrões eram parentes do seu marido. O casal absorveu o negócio da família.
Atualmente, ela conta principalmente com a ajuda do irmão para fazer e vender os doces, uma vez que o esposo está doente e não pode mais ajudá-la. Luciana lembra saudosista dos tempos áureos da Biquinha, quando os turistas lotavam a praça em busca dos doces. “Principalmente das cocadas”, conta. O movimento, agora, é intenso na alta temporada, quando a família se empenha para dar conta do trabalho. “Eu tenho outras rendas, mas me mantenho com a venda de doces”.
Se hoje os comerciantes estão estáveis na praça, nem sempre foi assim. Em 2013, os antigos boxes da praça pegaram fogo. Os comerciantes tiveram que trabalhar na Praça Vinte e Dois de Janeiro. “O movimento caiu bastante”. Porém, para ela, nos últimos dois anos a situação melhorou. “Conseguimos voltar para a Biquinha, que é o local de onde não deveríamos ter saído”, declara Joanira. Para Luciana o período é algo a ser esquecido. “Foi muito ruim. Quase falimos”.
A principal reivindicação dos comerciantes é a construção de novos boxes. “Os clientes sempre reclamam que os doces estão expostos e muitos não compram por esse motivo”, destaca Joanira. “A Biquinha é um ponto turístico e precisa de investimentos para ficar cada vez melhor”, diz Luciana.
Segundo a Secretaria de Projetos Especiais (Sepes), em breve terá início uma obra de revitalização do local. A principal intervenção será a criação de estruturas removíveis nas tendas. A Sepes irá fazer a logística de modo a interditar metade da Praça, num primeiro momento. Depois, a outra metade, segundo o secretário Adão Ribeiro. “Esse é um compromisso com o permissionário, eles não sairão de lá. Eles não podem ser penalizados”.
Histórico – O local sempre foi propício ao comércio. Primeiro, graças ao público que se reunia ali por causa da água da Biquinha. Depois, devido ao trânsito de veículos no sentido Ponte Pênsil. Foi assim que o comércio se expandiu, no loc nascendo a Casa das Bananadas.
Segundo o historiador Marcos Braga, o incentivo para o comércio local – especialmente de doces – passou a ser maior ainda a partir de 1932 que foi quando o lugar ganhou “um jeito de ponto turístico”, por causa da revitalização que foi feita na praça. Atualmente, são 15 permissionários atuando na Biquinha, sendo sete de doces e oito de salgados e/ou artesanatos.