Três grandes obras prometem resolver de vez o problema crônico das enchentes na Zona Noroeste de Santos, beneficiando cerca de 80 mil moradores da região. Duas delas em andamento e outra prestes a começar, elas chamam a atenção pela complexidade e pelo longo trabalho para que começassem a ser executadas, que passaram por planejamento, captação de recursos, licenças, autorizações e licitações.
As ações chegam para somar a uma série de obras que a Prefeitura vem fazendo desde 2013 para sanar a questão, como as feitas na Avenida Martins Fontes, Jovino de Mello, Haroldo de Camargo e grandes investimentos como a Nova Entrada de Santos, cujos resultados já são visíveis para a população.
Confira agora um pouco mais dessas três obras, onde estão sendo feitas, o que está sendo realizado e quem serão beneficiados com o trabalho. Confira:

ENTRADA DE SANTOS
A obra da estação elevatória, onde hoje fica parte do estacionamento do Assaí atacadista, faz parte da segunda fase do Sistema Binário da Nova Entrada de Santos. Ela será construída onde hoje fica o estacionamento do Hipermercado Assaí, perto da entrada da Cidade. 
Mas afinal, o que é uma estação elevatória? A obra consiste na construção de uma estação de bombeamento que funcionará em conjunto com a vala já existente no endereço. Esta será revestida em concreto e transformada numa bacia de retenção (um grande espaço para receber a água), que será mantida o tempo todo vazia até os dias de chuva. Quando o nível pluvial for alto, a água que cairá nessa bacia será captada e bombeada para o mar por tubulações que passarão por baixo das pistas da Via Anchieta.   
O gestor do Programa Nova Entrada de Santos, Wagner Ramos, é taxativo em afirmar que a obra representará o fim do sofrimento em período de chuva para os moradores da região. Segundo ele, cerca de 5 mil famílias serão impactadas com os trabalhos de macrodrenagem. “A comunidade do Chico de Paula fica exatamente no caminho em que passava o antigo rio. As construções feitas no local impedem o escoamento natural da água em períodos de chuvas mais fortes. Consequentemente, a água se acumula nas imediações da Vila Haddad e do Saboó, gerando os alagamentos que se espalham pelos endereços e impactam até as imediações da Avenida Nossa Senhora de Fátima”.  
O projeto tem término previsto para 2024 e representa uma vitória para os moradores da Cidade, segundo Ramos.  “É a cereja do bolo do que pleiteamos junto ao Governo do Estado, pois afeta o trânsito e a vida das pessoas. De que adianta fazer uma intervenção viária tão importante, construir viaduto, se no momento de uma chuva mais forte alaga devido à falha na drenagem? ”.  
Essa obra vai complementar outra já entregue na região. “A Avenida Martins Fontes, por exemplo, recebeu uma galeria gigantesca. Antes, as tubulações tinham apenas 90 centímetros de diâmetro, hoje passaria um carro por elas. Com o bombeamento da futura Estação Elevatória vai funcionar plenamente”, explica Ramos.  
 
SANTOS NOVOS TEMPOS
O Programa Santos Novos Tempos é o maior conjunto de obras estruturais da história de Santos e tem como principal objetivo acabar com o problema dos alagamentos na Zona Noroeste, além de impactar diretamente no problema em São Vicente.  
Para explicar o programa, primeiro precisamos entender uma questão fundamental: A Zona Noroeste possui 12km² ao todo, e 3,5km² dessa área estão sujeitos a alagamentos. Essa é outra questão importante: diferentemente das enchentes (ocasionadas pela subida do nível de rios devido à chuva) os alagamentos são ocasionados pela subida da maré ou por tempestades.  
Quem mora na região sabe bem disso, mesmo em dias sem chuva, mas com alta da maré, os alagamentos acontecem. Isso é explicado pelo fato de que grande parte dessa importante região de Santos foi construída em área de aterro que, com o passar dos anos, se acomodou e afundou. Em alguns trechos, esse terreno chega a ser um metro mais baixo do que o restante da Cidade, formando um ambiente propício para o acúmulo de água.
Com um problema complexo como este, a solução não seria simples. O programa Santos Novos Tempos inclui uma completa reestruturação da região que tornará possível acabar com este problema, ou ao menos diminuí-lo ao máximo.  
Tentando explicar de uma maneira simples, a obra passa por diversas fases que vão desde o desassoreamento dos rios, limpeza de canais, urbanização e habitação, até os trabalhos mais complexos de infraestrutura que incluem as trocas de tubulações e a construção de estações elevatórias. Duas importantes obras neste momento estão ocorrendo e, quando concluídas, já modificarão muito o panorama dos alagamentos.

AVENIDA HAROLDO DE CAMARGO
Iniciada em agosto de 2021 e com prazo previsto para término em 24 meses, a obra contra alagamentos, chamada EEC7, tem como principal objetivo complementar as intervenções na Avenida Haroldo de Camargo.  
Para isso, ela contará com uma estação elevatória, um canal e uma comporta na parte aterrada do mangue. Os serviços, em andamento, estão na fase de fundação, etapa mais complexa da obra, com intervenções específicas para solos moles.
Como explicado anteriormente, grande parte da Zona Noroeste está localizada em áreas aterradas. Sendo assim, a obra consiste basicamente em dar vazão e espaço para que essa água das chuvas, ou da maré, siga seu curso sem se acumular gerando os indesejados alagamentos.  
Nesse trecho, quando concluído, a água da chuva ou da maré passará pelos canais e pelas galerias até chegar à chamada estação elevatória que servirá para acumular a água (que causaria as inundações) e despejá-la no Rio dos Bugres.  
Em caso de chuva fraca com maré baixa, as comportas permanecerão abertas e a água fluirá, por gravidade, para o Rio dos Bugres. Se chover fraco, mas a maré estiver alta, as comportas serão fechadas e a água ficará armazenada no reservatório de acumulação (correspondente a três piscinas olímpicas). Gradativamente, três bombas de sucção retirarão a água retida e lançarão no Rio dos Bugres.
Com chuva forte e maré baixa, parte da água poderá ser retida pelas comportas. Já quando chover forte e a maré estiver alta, as comportas permanecerão fechadas, com todas as bombas funcionando para lançar o volume de água represada no Rio.
Juntas, as três bombas terão capacidade de sugar 6m³ de água por segundo. Com o volume de água sugado por segundo é possível encher uma piscina olímpica em apenas cinco minutos. As bombas serão a diesel para funcionar mesmo durante as tempestades, e contarão com cestos e grades de aço inox para reter o lixo levado pela chuva, em ambos os lados das comportas.
Segundo o engenheiro Márcio Lara, gerente do programa Santos Novos Tempos, essa obra beneficiará principalmente os moradores dos bairros Castelo e Areia Branca, além de parte dos moradores do Bairro Guassu, em São Vicente. “Ela deverá estar pronta e entregue no primeiro semestre de 2023. Essa estação evitará que água fique acumulada nos bairros, pois esta será bombeada numa velocidade de 6m³ por segundo, ou seja, é como se retirassem seis caixas d’água de mil litros por segundo”.

OBRAS NO ESTUÁRIO
Uma das obras mais esperadas pela população de Santos é a drenagem do Saboó. A intervenção tem como principal objetivo escoar as águas das chuvas e dos rios em direção ao estuário, na área de competência federal. Esse trabalho é fundamental para complementar a macrodrenagem realizada pelo Município na região.
Lara ressalta que, além de impactar diretamente no trânsito de toda a Cidade e no trabalho portuário, por evitar as cheias na entrada da Cidade, complementando as obras da estação elevatória, será resolvido o problema dos alagamentos nos bairros Saboó, Vila Haddad e Chico de Paula.  
“Essa é a maior microbacia hidrográfica da região, portanto terá uma capacidade de bombeamento cinco vezes maior do que a da estação elevatória da Avenida Haroldo de Camargo”.
Como explicado anteriormente, os trabalhos de drenagem visam fazer com que a água (de maré, ou chuva), em vez de acumular em pontos da Cidade, escoe por canais ou galerias até chegar a um reservatório construído, que seria responsável por bombear essa água para algum reservatório natural. 
No caso do Saboó, essa água seria captada, bombeada e enviada para o mar, através do sistema de bombeamento da estação elevatória e de todas as galerias construídas.  
Os trabalhos, que começaram em outubro de 2021, consistem na construção de um canal de retenção e instalação de galerias e tubos para drenagem sob a Avenida Portuária. E, ainda, na implantação de canais com cestos, grades e comportas junto à foz do Rio Saboó, por onde seguem as águas das chuvas e nascentes do morro e do bairro Saboó.
Essa obra, no entanto, depende muito do Governo Federal, pois a próxima fase inclui a construção de galerias de drenagem que passam abaixo da linha. Sob a Avenida Portuária serão implantadas duas galerias em aduelas de concreto (blocos pré-fabricados com formato retangular e vazado, que se encaixam formando grandes tubulações) medindo 4m x 2m, fabricadas para suportar tráfego ferroviário. 
Isso permitirá, a qualquer tempo, prosseguir com os planos federais de implantar mais ramais ferroviários para os novos terminais portuários do Porto Saboó. A obra inclui ainda dois tubos de 2,50m de diâmetro sob a avenida para o deságue da futura Estação de Bombeamento.

EXPECTATIVA PARA MARÇO
O Ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, informou pela Imprensa que o aditamento do contrato de operação das linhas ferroviárias com a MRS, fundamentais para o andamento das obras, será assinado em março.

RESULTADOS JÁ SÃO VISÍVEIS
É importante lembrar que Santos já fez, ao longo dos últimos anos, um grande investimento em obras estruturais anteriores como as entregues no final de 2020: o viaduto em curva (construído no encontro das Avenidas Nossa Senhora de Fátima e Martins Fontes com a Rodovia Anchieta), além de outros quatro viadutos em funcionamento ( Anchieta, Alemoa, da entrada da Cidade e do Piratininga, contando ainda com a ponte sobre o Rio São Jorge, que liga a Zona Noroeste à Via Anchieta).
Wagner Ramos conta que o trabalho visando as melhorias na entrada de Santos começou a ser planejado ainda em 2013. Ele recorda que, para romper os primeiros entraves burocráticos como captação de recursos e toda parte de planejamento, foram necessários três anos. Começaria então a luta para obtenção de licenças e autorizações. 
“Enquanto aguardávamos as liberações ambientais dos trechos mais complexos, fizemos uma urbanização de vias como a Jovino de Melo, com planejamento, calçadas acessíveis, de concreto, toda parte de embutimento, melhorias no paisagismo dos bairros, os mobiliários urbanos como lixos, bancos, pontos de ônibus, ou seja, fomos adiantando tudo que era possível até conseguir avançar nos processos burocráticos”. 
Num segundo, obras de drenagem foram iniciadas, como as tubulações que foram trocadas na Avenida Martins Fontes. Quem visita a Zona Noroeste hoje, ou a Nova Entrada de Santos, já visualiza grande parte dessas mudanças, que prometem ser ainda maiores com a conclusão de todas as obras para que a Cidade viva Novos Tempos.