Palavras do presidente da Rússia, antes da assinatura dos tratados de anexação. Russos nunca estiveram tão atentos – e tão preocupados.
Os tratados de anexação à Rússia, das regiões Donetsk, Lugansk, Zaporijia e Kherson, foram assinados nesta sexta-feira, em Moscovo.
Como estava previsto, Vladimir Putin falou antes das assinaturas, na Sala de São Jorge no Grande Palácio do Kremlin, e analisou os referendos nas quatro zonas referidas: “É uma decisão inequívoca”.
A percentagem de “sim” à Rússia foi próxima de 100% – embora a maioria dos países considere que este processo é ilegal, mal conduzido e não reconheça os seus resultados.
Indiferente ao exterior, o presidente da Rússia assegurou que os habitantes das quatro regiões vão ser protegidos por “todos os meios necessários”.
“Os habitantes de Lugansk e Donetsk, Kherson e Zaporijia vão tornar-se cidadãos russos para sempre. As pessoas votaram pelo nosso futuro comum”, continuou Putin.
O presidente da Rússia espera que a Ucrânia aceite um “cessar-fogo imediato, para que termine todas as hostilidades e regresse à mesa das negociações”.
Volodymyr Zelesnkyy, presidente da Ucrânia, falou na noite passada sobre esta anexação e voltou a apelar a um travão a Vladimir Putin: “Todos no mundo compreendem bem o que esta tentativa de anexação significa na realidade. Não significará o que o Kremlin espera. Para parar isto, é preciso travar aquele, na Rússia, (Vladimir Putin) que quer mais a guerra do que a vida, a sua e a dos cidadãos russos”.
Russos atentos e preocupados com a guerra
A sondagem mensal do instituto russo independente Levada, relativa a Setembro, demonstra que os russos nunca estiveram tão atentos à guerra na Ucrânia – e nunca estiveram tão preocupados com o conflito.
O estudo do Levada recolheu a resposta de mais de 1.600 russos adultos, em muitos pontos do país, ao longo da última semana.
Dois terços seguem, ou muito perto, ou bastante perto, a guerra. Um aumento global de 15% em relação a Agosto.
88% dos inquiridos estão, ou muito preocupados, ou bastante preocupados com a guerra.
Há uma divisão em relação ao prolongar o conflito ou iniciar já as negociações de paz: 44% defendem mais guerra, 48% defendem a paz (a contabilidade foi inversa no mês anterior).
Quando questionados sobre o sentimento que predomina em relação à guerra na Ucrânia, ansiedade, medo e horror reuniram 47% das respostas. Apenas 23% das pessoas estão orgulhosos do seu país, a mesma percentagem das que se sentem chocadas.
A ansiedade estende-se aos ucranianos, por outros motivos. Anastasia e Roman Akulenko formam um casal que teve de fugir de casa por causa de ataques russos.
“Foi muito assustador. O meu marido estava na varanda e os aviões de guerra passaram por cima da sua cabeça. Ele pensou que os foguetes tinham sido lançados em nossa direção e gritou ‘para o chão’ e todos nós caímos e depois escondemo-nos na casa de banho. Foi onde nos vestimos. Depois fomos para a cave. Desde então, as crianças não quiseram subir. Passámos a noite na cave e de manhã, assim que o toque de recolher acabou, metemo-nos na estrada”, recorda Anastasia, no canal Euronews.
As recordações persistem mas a esperança de um futuro melhor também: há planos para a reconstrução do apartamento. “O mais importante é que a guerra termine. E então tudo será melhor. Sim, estamos ansiosos por isso”.