O empresário Leandro Camargo, dono de uma empresa fornecedora do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into) no Rio de Janeiro, afirmou em delação que os deputados federais Francisco Floriano (DEM-RJ) e Júlio Lopes (PP-RJ) recebiam propina do empresários Miguel Iskin, apontado como o organizador do cartel em pregões do Into e da Secretaria de Saúde do Rio.
O empresário prestou depoimento no âmbito da Operação Ressonância, deflagrada na última segunda (4). A ação, desdobramento da Operação Fatura Exposta, mira esquemas de corrupção na Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro. Nesta fase da operação, o Ministério Público Federal (MPF) tinha como alvo grandes multinacionais fornecedoras de material hospitalar, que se envolveram em fraudes em licitação e formação de cartel.
Na delação homologada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli, o empresário afirma que os dois parlamentares disputavam cargos de direção dentro do Into, sempre com a intermediação de Iskin, alvo de mandado de prisão nas operações Ressonância e Fatura Exposta.
Segundo Camargo, Francisco Floriano pressionou o ex-diretor-geral do Into Christiano Cinelli a pagar propina para garantir apoio político na manuntenção do cargo. Foi acertado então um valor mensal de R$ 150 mil, com intermediação do empresário entre Iskin e Floriano. A primeira parcela, de R$ 100 mil, foi paga em duas “viagens” de Camargo; já a segunda, de R$ 50 mil, ocorreu em janeiro do ano passado.
“O deputado ficou muito insatisfeito, pois disse que esperava um valor maior, visto que sabia quanto a Oscar Iskin [firma de Miguel Iskin] havia ganho no final do ano e que tomaria as providências para tirar o Miguel do esquema”, afirmou o delator.
Três meses depois, de acordo com Camargo, Iskin jantou com o deputado e acertou a nomeação de Naasson Cavanellas para o cargo de diretor-geral da Into. No mês que Cavanellas assumiu o cargo, em abri do ano passado, a Operação Fatura Exposta foi deflagrada pela Polícia Federal. Iskin foi preso no âmbito da operação, o que não impediu a cobrança de propina.
O delator relatou que, durante a gestão do atual diretor da Into, André Loyelo, foi procurado por pessoas ligadas à direção solicitando propina. Loyelo foi preso na última quarta (4).
Camargo afirmou ainda ter presenciado “quando o deputado Júlio Lopes esteve na casa de Miguel Iskin para buscar dinheiro, que foi entregue em um saco cinza, desses auto-adesivos, com uma quantia de R$ 100 mil”. A informação sobre o valor teria sido dada por Gustavo Estellita, sócio de Iskin.
“Estellita disse que não tinha sido o primeiro pagamento feito ao deputado, que esse era mais um pagamento. Estellita disse: ‘Já pagamos um puta dinheiro para esse cara e até agora não resolveu nada'”, declarou Camargo à Procuradoria-Geral da República (PGR).
Todos os envolvidos na delação do empresário Leandro Camargo negaram o envolvimento no esquema. (Com informações da FolhaPress)