O reitor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Roberto Leher, criticou na madrugada desta terça (3) a atuação dos bombeiros no combate ao incêndio que destruiu o Museu Nacional, gerido pela universidade, mas não explicou a falta de brigadistas de incêndio, como determina a lei, para evitar a propagação do fogo. Ele culpou também a falta de verbas para “obras de melhoria” da infraestrutura do palacete onde funcionava o museu, mas mas não explicou o que foi feito dos recursos recebidos do BNDES no primeiro semestre, R$24 milhões, tampouco o destino dos recursos arrecadados com a cobrança de ingresso.
“É óbvio que a forma de combate não guardou proporção com o tamanho do incêndio. Percebemos claramente que faltou logística e capacidade de infraestrutura do Corpo de Bombeiros que desse conta de um acontecimento tão devastador como foi esse”, afirmou ele, em entrevista durante as operações de combate às chamas.
O incêndio teve início por volta das 19h30 de domingo (2). Inicialmente, foram enviadas equipes de quatro batalhões ao local, mas não havia água nos hidrantes próximos ao edifício. O combate às chamas foi feito com o apoio de caminhões-pipa e água de um lago dentro da Quinta da Boa Vista, parque na zona norte da cidade onde está o museu.
“A própria equipe da prefeitura universitária orientou os bombeiros onde buscar água. Tivemos certamente problemas de logística. Essa dificuldade logística não é do âmbito do Museu Nacional”, continuou Leher.
Por volta das 2h desta segunda (3), a situação já havia sido controlada, mas os bombeiros trabalhavam para debelar pequenos focos de incêndio.
Ao todo, 80 homens e 21 caminhões dos bombeiros foram usados na operação. Veículos da Cedae (Companhia Estadual de Água e Esgoto) e da Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) ajudaram no transporte de água para o local.
O palacete imperial não tinha sistema de prevenção de incêndio, que seria instalado com verba de contrato de R$ 21 milhões para a restauração assinado com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) em junho, quando o Museu Nacional comemorou 200 anos.
“Esta é uma edificação muito antiga, que foi concebida em um contexto em que não havia uso de energia, como usam as edificações acadêmicas. Nós temos laboratórios, áreas administrativas, informática, que têm grande uso de energia”, disse Leher. A restauração, afirmou, previa a instalação de um sistema de prevenção de incêndio muito robusto”.
Leher defendeu que a UFRJ não dispõe de recursos para custear as obras. “A UFRJ, como as demais universidades brasileiras, vive hoje em um contexto de muita restrição orçamentária. E é obvio que nesse contexto todas as áreas da universidade são afetadas”, alegou.
O diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, cobrou responsabilidade do governo federal na alocação de recursos para o museu e pediu apoio para a reconstrução. Em maio, antes da comemoração do bicentenário, ele já alertava sobre as precárias condições do edifício.
“Seria um covardia para com a UFRJ querer que ela resolva todos os problemas, que vêm de muito tempo”, disse ele nesta segunda. “Nós podemos e devemos trabalhar para que essa instituição fique de pé novamente. Nós contamos com a UFRJ para isso e lembramos ao governo federal da sua imensa responsabilidade com esse processo.”
Ele disse que ainda não é possível estimar as perdas no acervo da instituição, que tinha mais de 20 milhões de itens. Antes que o fogo se espalhasse, bombeiros e funcionários conseguiram retirar peças e equipamentos do edifício.
Leher admitiu, porém, que as perdas são de “enorme magnitude”. “Não temos como informar quais acervos foram perdidos, mas certamente muitos acervos etnográficos, que são mais vulneráveis ao fogo, botânicos, etc, foram irremediavelmente perdidos”, afirmou.
“Para o país é uma perda imensa. Aqui nós temos a nossa memória. Grande parte do processo de constituição moderna do Brasil passa pelo Museu Nacional. Aqui temos a história do período de colonização portuguesa, temos o ato simbólico da constituição da República, muitos documentos que falam sobre a nossa memória”, lamentou o reitor da UFRJ.