Nesta sexta-feira (3), três médicos que passaram dois anos nas unidades de saúde se formam especialistas em Medicina de Família e Comunidade  

 

Transformação. Esta é a palavra que define o período dos estudantes de Medicina da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste) – Campus Guarujá, que já atuam nas Unidades de Saúde da Família (Usafas) da Prefeitura. A mudança acontece em diversos aspectos: na vida dos pacientes, na dos colegas de trabalho, na rotina da unidade e no coração de cada um dos primeiros formandos dessa parceria entre Administração Municipal e Universidade.

 

Em seus últimos dias na Usafa Las Palmas, a formanda Marina Guim Otsuka Padovan Figueiredo, de 30 anos, lembra que também se transformou. Há dois anos, quando o projeto teve início no Município, ela dava os primeiros passos na especialização em Saúde da Família. Hoje, ao olhar para trás, lembra o quanto aprendeu e a sua formatura acontecerá na próxima sexta-feira (3), com outros dois colegas.

 

“Sempre quis cuidar das pessoas como um todo, num contexto familiar. Nesse período, aprendi com os médicos do Município, com a população. Levo experiências e histórias comigo”, diz ela, triste com a despedida, mas animada com os novos desafios que virão em outra área da Saúde, ainda em Guarujá.

 

“Eu levo meus pacientes para casa. Estudo as histórias mais graves para tentar resolver o mais rápido possível. Com o anúncio da minha despedida, eles têm vindo me dar beijo, abraço e até postam textão nas redes sociais”, diz ela.

 

Este ano, com a parceria da Universidade, as Usafas de Guarujá terão quatro estudantes que passam para o segundo ano e quatro que ainda serão recebidos em março. De segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas, a função dos alunos é a de atuar no cuidado e no acompanhamento dos pacientes ligados àquela unidade. Todos são médicos formados que buscam a especialização em Medicina de Família e Comunidade.

 

A média é de 25 pacientes agendados por dia para cada médico, além dos acolhimentos realizados. Durante a entrevista, Marina atendeu uma gestante com sintomas de covid-19, que recorreu à Unidade ao suspeitar da doença.

 

A preceptora de Marina, que acompanha de perto a rotina da aluna dentro da unidade, é Ana Claudia de Rezende. “Essa chegada foi uma mudança na minha vida e na dos munícipes, pois fortalecemos os vínculos com a comunidade, melhoramos a organização no dia a dia e os pacientes, que tanto os elogiam, são o melhor termômetro dessa proposta”.

 

O gerente da Usafa Las Palmas, Valter Antonio Daniel Filho, também sentiu a evolução do trabalho em conjunto com a Universidade. “A mudança é no dia a dia, com o vínculo com a comunidade e na eficácia e alta taxa de resolução dos casos”.

 

Experiências enriquecem

 profissionais e beneficiam a rede pública

O preceptor da Usafa Jardim Brasil, Aleff Mascarenhas, recorda os casos discutidos por ele e um dos médicos residentes. “O aluno passa pelas rotinas do que precisa conhecer e soma a prática com a teoria. Isso é muito resolutivo para a rede e traz humanização”.


Segundo ele, essa vivência faz com que 80% das demandas sejam resolvidas na própria Usafa, sem encaminhamento para as especialidades. “O resultado é maior qualidade na atenção primária”, citou.

 

Um desses formandos desta sexta-feira (3), Fabrício Souza Libório, de 28 anos, conta como é gratificante poder mudar a realidade da vida do outro na Usafa Jardim Brasil. “O paciente volta para agradecer e faz questão de compartilhar um bolo, um salgado, mesmo que seja o pouco que tem. E, para mim, fica a felicidade de poder ajudar”.

 

A gerente interina da Usafa Jardim Brasil, Rayssa Ferreira da Silva Barbosa, lembra que o principal legado dos estudantes é a humanização do atendimento. “Aumentou e melhorou o acompanhamento dos pacientes, colocamos em prática novas intervenções e ainda protocolos já conhecidos”.

 

Mudanças

Na outra ponta, os elogios só aumentam. A cozinheira Cláudia Cristina Oliveira Domingues, de 54 anos, diz que todos os filhos são atendidos na Usafa. Moradora do Morrinhos 3, ela explica que, além de ser mais perto de casa, a Unidade oferece todo o acesso para exames. “Quando precisa, os funcionários batem na porta de casa para nos lembrar das coisas, conversar e explicar tudo o que precisamos saber. Eles se importam com a gente”.

 

A supervisora administrativa e pedagógica do Programa de Residência de Medicina de Saúde da Família e Comunidade, Ângela Cafasso dos Reis Neto, lembra que o Programa de Residência de Medicina de Família e Comunidade é uma especialização para o médico.

 

“É uma alta complexidade clínica, de saber fazer diagnóstico, trabalhar com a comunidade, entender seus indicadores, com uma visão mais abrangente e focada no cuidado. Queremos atrair profissionais que tenham interesse pela atenção primária em saúde e reter esses talentos no Município. Formando no SUS para o SUS”, resume ela.