Uma distância longa. Uma estrada que não pode ser percorrida em um espaço de tempo curto e que, por muitas vezes, não existe interesse em se caminhar. Em tempos onde resultados rápidos são tão evidenciados, o trabalho da equipe de Abordagem Social dentro do Programa Novo Olhar, ligado à Secretaria de Desenvolvimento Social (Seds), parece ser, como popularmente se diz, “de formiguinha”.
Os cerca de vinte profissionais - operadores sociais, psicólogos e assistentes sociais - se revezam, durante sete dias da semana, três períodos por dia, em busca de uma oportunidade de mudar uma história de vida. Através da abordagem a pessoas em situação de rua, pretendem estabelecer vínculos para que, no momento certo, consigam “despertar” a pessoa na busca de uma nova realidade e uma nova esperança.
Maurício Jordão Matos, chefe da equipe de Abordagem Social, contou à reportagem, durante ação feita na orla nesta segunda-feira (28) à noite, que a equipe não pode desanimar com a quantidade de negativas que se deparam diariamente.
“Quanto mais tempo na rua, mais a pessoa desenvolve comportamentos, vamos dizer, de sobrevivência, o que chamamos de ‘crônicos de rua’. Ele vai se distanciando cada vez mais do mercado de trabalho formal e se acostuma a uma vida sem perspectivas. Aí é que está o delicado do trabalho da Assistência Social. Se tivermos a expectativa de que o processo será lógico, ou seja, que ele será acolhido hoje, amanhã irá arrumar um emprego e logo estará em casa, iremos nos frustrar. Não é tão simples assim”.
Durante o incansável trabalho de reconstrução, a equipe deve considerar os limites muitas vezes impostos pelas pessoas que vivem, há anos, nas ruas. “Se ele é crônico de rua, já se distanciou dos comportamentos tão comuns entre nós, que temos família, trabalho. Ele está distante disso tudo e essa distância não será percorrida em um espaço de tempo curto. É um trabalho de persistência, tentamos resgatar alguma coisa que ele teve lá atrás, uma situação de trabalho, um vínculo familiar, e isso exige de nós muita delicadeza. Cabe à equipe entender o momento certo e a condição que a pessoa tem de dar cada passo”, explica o chefe da equipe.
CANSADO DA RUA
Maurício conta que, muitas vezes, a população tem o desejo de ajudar, mas faz da maneira errada. “Santos é a terra da caridade, mas a caridade deve acontecer de outras formas. A forma tradicional de ajudar dando dinheiro ou comida, muitas vezes acaba fortalecendo o processo de permanência na rua. A saída desse cenário depende de a pessoa estar se sentindo incomodada ali. Acabei de conversar com um rapaz que me disse ‘estou há três dias comendo coisas do lixo’. Ele me pediu para ser acolhido ainda hoje, disse que está cansado da rua”. Para ajudar, então, a população deve contar com as equipes da Seds. “Ao identificar qualquer pessoa em situação de rua, deve ligar para o 0800-177766. Nossa equipe irá realizar a abordagem, orientar e convidar a pessoa a aderir aos serviços socioassistenciais da Cidade. Mas é importante, caso a pessoa esteja passando mal, chamar o Samu, que irá nos contatar após prestar socorro”.
Ao final da abordagem, os profissionais estavam com um sorriso no rosto. “Hoje tivemos um desfecho bem-sucedido. De quatro pessoas abordadas, três aceitaram os serviços oferecidos. Agora, tudo pode acontecer, né? Vamos torcer”, disse, sempre esperançoso, Maurício.