O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, afirmou nesta segunda, 10, que “fato grave é a invasão criminosa do celular dos procuradores”. O celular o ex-juiz foi hackeado e mensagens trocadas com o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato em Curitiba, pelo aplicativo de conversas Telegram foram publicadas pelo site Intercept.

Moro disse ainda que não viu “nada demais” nas mensagens com Dallagnol.

“Não tem nenhuma orientação nas minhas mensagens”, afirmou o ministro a jornalistas, após evento em Manaus.


Questionado se ele orientou o Ministério Público Federal durante a Lava Jato, disse: “Não tem nenhuma orientação ali. Aquelas, eu nem posso dizer que são autênticas, porque são coisas que aconteceram, se aconteceram, anos atrás. Não tenho mais essas mensagens, não guardo mais registro disso”.

“O juiz conversa com procuradores, o juiz conversa com advogados, o juiz conversa com policiais, isso é normal”, disse, antes de encerrar a coletiva dizendo que o motivo da visita à capital do Amazonas é a questão carcerária.

​O The Intercept informou que obteve o material de uma fonte anônima, que pediu sigilo. O pacote inclui mensagens privadas e de grupos da força-tarefa no aplicativo Telegram, de 2015 a 2018.

Após a publicação das reportagens, a equipe de procuradores da operação divulgou nota chamando a revelação de mensagens de “ataque criminoso à Lava Jato” e disse que o caso põe em risco a segurança de seus integrantes.

Nas conversas privadas, membros da força-tarefa fazem referências a casos como o processo que culminou com a condenação do ex-presidente Lula por causa do tríplex de Guarujá, no qual o petista é acusado de receber R$ 3,7 milhões de propina da empreiteira OAS em decorrência de contratos da empresa com a Petrobras.

Segundo a reportagem do Intercept Brasil, Moro sugeriu ao Ministério Público Federal trocar a ordem de fases da Lava Jato, cobrou a realização de novas operações, deu conselhos e pistas e antecipou ao menos uma decisão judicial. Especialistas em direito disseram à reportagem que não haveria, a princípio, nenhuma ilegalidade, mas pode ter havido desvio ético.

Sérgio Moro também divulgou nota, por meio de sua assessoria de imprensa, em que criticou a publicação das mensagens hackeadas. Ministro da Justiça não confirmou que material divulgado é seu, mas disse que as mensagens que o citam não o expõem.

Leia na íntegra:

“Sobre supostas mensagens que me envolveriam publicadas pelo site Intercept neste domingo, 9 de junho, lamenta-se a falta de indicação de fonte de pessoa responsável pela invasão criminosa de celulares de procuradores. Assim como a postura do site que não entrou em contato antes da publicação, contrariando regra básica do jornalismo.

Quanto ao conteúdo das mensagens que me citam, não se vislumbra qualquer anormalidade ou direcionamento da atuação enquanto magistrado, apesar de terem sido retiradas de contexto e do sensacionalismo das matérias, que ignoram o gigantesco esquema de corrupção revelado pela Operação Lava Jato.”